segunda-feira, 12 de julho de 2010

Noite de morte e vida

É tão tarde agora
no meio da noite tudo é tão escuro
e eu não vejo nada além de sombras
e formas que eu não reconheço
e no escuro me perco

O frio da madrugada me espreme
frio que me estremece
é frio de escuridão
porque é a escuridão que faz o frio
e a solidão o intensifica

Porque eu só penso no que ontem perdi
e por pensar não durmo e nem quero
ficar acordado só aumenta a dor
e essa dor me consome por dentro
mas me fortalece

E na noite escura e fria
me envolvo em lençóis frios
de um vazio ao meu lado
e dentro do meu peito
e o travesseiro ao lado... vazio

E volto a pensar no que perdi
em tudo o que tanto me agradava
que fugiu para sempre dos meus braços
e da minha cama solitária e vazia
e do meu coração solitário, vazio, triste

E o meu travesseiro encharco
com lágrimas frias que jorram da minha alma
e que me afogam na agonia da perda
e me sufocam na derrota do pensamento
deixando tudo mais escuro e frio

É como um punhal cravado em meu peito
que quanto mais eu mexo, torço, puxo
tentando retirá-lo de mim
mais me fere, mais me destrói
e mais eu morro

Mas, não! não posso me deixar morrer
não posso me render à tentação da morte
ela me oferece soluções rápidas
mas tudo isto é só a vida
querendo me ensinar a viver

A vida quer me ensinar a ver no escuro
e a me proteger do frio do inverno
e a não me entregar tão fácil
e a curar minhas próprias feridas
e a ser o médico da minha própria alma

E respiro bem fundo agora
lavarei as feridas por fora e por dentro
não deixarei que essa dor me leve embora
não é a hora, não é a minha hora
não agora!

Chico Freitas

2 comentários:

  1. me lembra um pouco as minhas sombras

    a diferença: em você elas não são mais,
    em mim elas são tudo!

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  2. Foi inspirado na Maria do Bairro? Achei libertador o fim.

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