segunda-feira, 15 de julho de 2013

A vista do vale cinzento ou relato de um prisioneiro sob o mar

Costumava olhar pro alto e ver o mar,
um mar azul com brancas ondas espumosas. 
Olhava admirado e calmo aquele mar. 

Hoje olho pro alto e vejo um rio,  
um rio de margens bem marcadas, 
de um cinza petrificante, estreitamento sufocante. 

O mar, reduzido a um rio, pela cidade que cresce, 
e a cidade, quando mais sobe, mais submerge.
As águas que dele descem já não molham mais, inundam. 

Rio, meu rio, meu azul perdido, roubado
pelos donos da cidade, que constroem destruição. 
Lucrativos pedaços de prisão a metros quadrados.

Azul marginado, pressionado, suprimido, sem espaço,
para dar espaço ao avanço que avança para o alto,
enquanto embaixo, no profundo, nada pode sair do lugar.

Azul celeste roubado, negra noite sem lanternas,
cada vez mais cinza, cada vez mais pálido.
Eu que dizia mar já digo rio, mas há quem diga céu.

Chico Freitas